Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Cemitério central: o primeiro cemitério público de Aveiro

Entrada do cemitério.
Na parte superior do portão pode ler-se: "Municipalidade 1860"
(Foto: Jorge Cunha, 2009)

Portão de entrada do cemitério
(Foto: Jorge Cunha, 2009)

Parte superior do monumento aos liberais aveirenses executados em 1829
(Foto: Jorge Cunha, 2009)

Uma das faces da base do monumento aos "mártires da liberdade", onde figuram os nomes dos seis liberais aveirenses executados
(Foto: Jorge Cunha, 2009)

No centro do cemitério, o monumento aos liberais aveirenses executados em 1829
Ao fundo, a capela
(Foto: Jorge Cunha, 2009)

Lápide no túmulo de José Estêvão Coelho de Magalhães
(Foto: Jorge Cunha, 2009)

Lápide na parede exterior da capela mortuária da família de José Estêvão
(Foto: Jorge Cunha, 2009)


Capela mortuária da família de José Estêvão
(Foto: Jorge Cunha, 2009)


Cornija na parte superior da porta da capela do cemitério, na qual se pode ler a data da sua construção
(Foto: Jorge Cunha, 2009)
Capela do cemitério
Foto: Jorge Cunha, 2009)


Notas à margem

* Por tradição, que se manteve durante séculos, os mortos eram sepultados nas igrejas, em "chão sagrado". Só com o advento do liberalismo e as tentativas de modernização do país foi posta em causa esta tradição. Um primeiro passo foi dado quando, por lei de 21 de Setembro de 1835, durante o governo cartista do Duque de Saldanha, se determinou a construção de cemitérios em campo aberto. Esta medida viria a ser complementada por um decreto de 28 de Setembro de 1844, numa altura em que Costa Cabral era o chefe do governo, proibindo os enterramentos nas igrejas e impondo que os mortos fossem sepultados em cemitérios, depois de o delegado de saúde ter certificado o óbito e de ter sido obtida uma licença sanitária. A lei era, naturalmente, determinada por razões de saúde pública, mas o povo, na sua maioria analfabeto, recebeu com hostilidade estas medidas. Fanatizado, além disso, por um clero ultraconservador e antiliberal, que, em vez de esclarecer as pessoas, falava da proibição de fazer enterramentos nas igrejas como uma medida anti-religiosa inspirada pelo Diabo e pela Maçonaria, revoltou-se em diversas ocasiões e locais. Para além da resistência popular, a aplicação do decreto de Costa Cabral encontrou outra dificuldade de monta: é que, apesar da lei que determinava a construção de cemitérios ser já de Setembro de 1835, a pobreza reinante e a escassez de recursos fez com que, na realidade, poucos fossem construídos. Daí que o decreto de proibição de enterramento nas igrejas tenha sido, ainda por bastante tempo, largamente ignorado. Originou, mesmo assim, manifestações populares de protesto, sobretudo nas zonas rurais mais distantes e sujeitas a maior obscurantismo religioso, como o Alto Minho e Trás-os-Montes. Foi, aliás, um destes episódios de revolta popular, ocorrido nas proximidades de Póvoa de Lanhoso, na Primavera de 1846, a causa próxima da chamada revolta da Maria da Fonte, que depois se estendeu progressivamente a outros pontos do país, até se transformar num verdadeiro movimento insurreccional generalizado.
Fonte: Wikipédia
* Em Aveiro, curiosamente, o primeiro cemitério - o actual cemitério central da cidade - foi construído, embora, ao que parece, em condições bastante precárias, ainda no ano de 1835. Foi utilizada, para isso, parte do terreno que pertencera à cerca do extinto convento dominicano de Nossa Senhora da Misericórdia. O decreto governamental de Maio de 1834, da responsabilidade do então ministro da justiça, Joaquim António de Aguiar (que ficou conhecido como o "Mata Frades") extinguiu, com efeitos imediatos, todas as ordens religiosas masculinas, não podendo as femininas admitir novos membros, até à sua extinção por morte da última religiosa. Por esta razão, em fins de Junho de 1834, todos os frades tinham já deixado o convento de Nossa Senhora da Misericórdia.
Fonte: "Aveiro e Cultura. Calendário Histórico de Aveiro"
* O primeiro cadáver a ser sepultado no novo cemitério, em 12 de Dezembro de 1835, foi o do carpinteiro Francisco de Almeida, que morara na Rua do Espírito Santo (actual Rua de Eça de Queirós). Antes da inumação, o povo amotinou-se e, por vontade da família do defunto, chegou a abrir sepulturas em duas igrejas. Contudo, a autoridade acabou por se impor. Era o primeiro defunto a ser sepultado fora de uma igreja, ainda por cima num cemitério com condições muito precárias e que nem sequer fora benzido. Em 1839, foi construída uma capela no cemitério e só em 10 de Novembro desse ano, com a presença da Câmara Municipal e das autoridades locais, se procedeu à sua bênção.
Fonte: "Aveiro e Cultura. Calendário Histórico de Aveiro"
* Nas décadas seguintes, a Câmara Municipal foi dotando o cemitério de melhores condições. Uma delas foi a colocação de um portão, à entrada, em cuja parte superior se pode ainda hoje ler: "Municipalidade 1860".
* No dia 4 de Novembro de 1862, faleceu em Lisboa, numa casa da Rua de "O Século", José Estêvão Coelho de Magalhães, que, no dia seguinte, foi sepultado nesta cidade. Só em 16 de Maio de 1864 os seus restos mortais foram trazidos para Aveiro, tendo ficado depositados numa capela mortuária mandada construir, no cemitério central, pela sua viúva, Dona Rita de Moura Miranda de Magalhães.
Fonte: "Aveiro e Cultura. Calendário Histórico de Aveiro"
* Em 1865, a Câmara Municipal mandou colocar no centro do cemitério um monumento em memória dos seis liberais aveirenses condenados à morte e executados pelos absolutistas partidários de D. Miguel, por terem participado na revolução liberal de 16 de Maio de 1828. Quatro foram enforcados e decapitados na Praça Nova, no Porto, em 7 de Maio de 1829; outros dois em 9 de Outubro do mesmo ano.
Numa das faces da base do monumento figuram os seus nomes:
7 DE MAIO DE 1829
FRANCISCO MANUEL GRAVITO DA VEIGA E LIMA
MANOEL LUIZ NOGUEIRA
CLEMENTE DE MELLO SOARES DE FREITAS
FRANCISCO SILVÉRIO DE CARVALHO DE MAGALHÃES SERRÃO
9 DE OUTUBRO DE 1829
CLEMENTE DE MORAES SARMENTO
JOÃO HENRIQUES FERREIRA

Noutra face está escrito: MUNICIPALIDADE DE 1865

Numa terceira face da base do monumento pode ainda ler-se a seguinte homenagem:

OS OSSOS AQUI TEM A ALMA NO EMPYREO
SEIS ILLUSTRES VAROENS POR QUEM FREMENTE
A LIBERDADE CHORA ATROZ DELÍRIO
NELLES PUNIU O ESFORÇO INDEPENDENTE
E HEROES OS FEZ CO AS PALMAS DO MARTYRIO
FIQUE SUA LEMBRANÇA ETERNAMENTE
NOS NOSSOS CORAÇOENS NA PÁTRIA E HISTÓRIA
PAZ AOS SEUS RESTOS AOS SEUS NOMES GLÓRIA

* Em 20 de Fevereiro de 1866, foram trasladadas para o cemitério central de Aveiro as cabeças dos «mártires da liberdade», para o monumento mandado erigir pela Câmara Municipal, cujo presidente era então Manuel Firmino de Almeida Maia.
Fonte: "Aveiro e Cultura. Calendário Histórico de Aveiro"

3 comentários:

Anna Cecília Bezerra disse...

Caro Jorge:
Estava a procura de fotografias sobre o cemitério de Aveiro e a busca do Google me direcionou para o seu blog. Vou utilizar as suas fotos no meu próximo post. Gostei muito de suas fotos e do registro histórico.Parabéns pelo trabalho. Abraços.
Anna Cecília.
Ah! o nosso blog está em http://digaasnovas.blogspot.com

Unknown disse...

Obrigada muito e sou estudante da Universidade de Aveiro e sou da China.
Gosto muito das tuas fotos e hoje passeio muito tempo no cemiterio, bonito e tranquilo. Acho que vou mais uma vez.
Posso fazer amigo contigo?
o meu email: xuhan110110@gmail.com
Raquel

Unknown disse...

Existe um jazigo com uma inscrição muito enigmática "Aqui jaz um velho infeliz". Alguém me saberá explicar o que significa?