* Segundo Rangel de Quadros ("Aveiro - Apontamentos Históricos") a igreja do Espírito Santo situava-se um pouco a sul do actual Largo das Cinco Bicas ou Largo de Luís de Camões, tendo sido desafectada do culto em 31 de Janeiro de 1836. Curiosamente, o último enterramento feito na igreja (uma criança de dois anos) teve lugar a 13 de Outubro de 1835, no mesmo ano em que foi criado o primeiro cemitério público de Aveiro (o actual cemitério central) e nele feito o primeiro enterramento (a 12 de Dezembro).
O processo de demolição da igreja do Espírito Santo, contudo, arrastou-se ainda por largos anos. Com efeito, segundo Rangel de Quadros ("Aveiro - Apontamentos Históricos"), no ano de 1843 é ordenada definitivamente a sua demolição, mas os trabalhos terminariam apenas em 1858. Ainda em 1857, o administrador do concelho de Aveiro, em reunião da Junta de Paróquia da Glória, transmitiu as ordens peremptórias do Governador Civil para que, de imediato, fossem removidos os entulhos da igreja, demolida há anos, e trasladadas as ossadas dos cadáveres que haviam sido aí sepultados.
* Bastantes anos antes (1841), tinha já sido demolido o cruzeiro da igreja do Espírito Santo, "muito notável pelos arrendados da cruz, cujos braços e parte superior terminavam em flor de lis", sendo "muito semelhante ao que ainda hoje se vê no adro de S. Domingos" (Rangel de Quadros, "Aveiro - Apontamentos Históricos").
* O chafariz do Espírito Santo foi uma obra levada a cabo pela Câmara Municipal com o intuito de melhorar o sistema de fornecimento de água à população, que, nessa altura, mesmo no espaço urbano, era assegurado unicamente por fontanários. De acordo com um interessante estudo de Manuel Ferreira Rodrigues, "Património Urbano Associado ao Abastecimento de Água a Aveiro", Em 8 de Agosto de 1878, em conformidade com um plano aprovado antes, a Câmara obtém um empréstimo no valor de 10.000$00 réis, amortizáveis em 10 anos, ao juro de 7% ao ano. Para a edificação de um chafariz, na freguesia da Glória, «de extrema necessidade e instantemente reclamado», estavam destinados 4000$000 réis; o resto seria para uma estrada (3000$00 réis) e para a escola da Vera Cruz outro tanto. Os 4 contos de réis, especificava o texto, eram para «a exploração de águas, na Brejeira, seu encanamento e construção do chafariz do Espírito Santo», hoje conhecido como Fonte das Cinco Bicas. Na freguesia da Glória apenas existiam duas fontes, situadas em dois extremos da freguesia, «que pouca água podem fornecer». O chafariz era considerado «uma obra de grande vulto e muito dispendiosa». As obras de construção prolongaram-se até 1880, ano em que foi inaugurado, como se pode ver na inscrição epigráfica do mesmo.
* Ainda segundo Manuel Ferreira Rodrigues, o projecto do chafariz do Espírito Santo, tal como o do chafariz da Praça do Peixe, é da autoria do Eng. João Honorato da Fonseca Regala. A pedra utilizada na sua construção (calcário) veio de Outil e Ançã. A inexistência de pedra em Aveiro tornava obrigatória a sua vinda de longe: o grés vermelho, de Eirol; o calcário, da região de Cantanhede; o granito, de Oliveira de Azeméis, Albergaria-a-Velha, Sever do Vouga, Santa Maria da Feira; o xisto, de Canelas. Noutros casos, aproveitava-se a pedra proveniente de demolições, feitas, por vezes, expressamente com o fim de obter material para novas construções: assim sucedeu com "os restos da velha muralha medieval e dois templos, um na cidade e outro em Esgueira" que "foram demolidos para a obtenção de pedra para os alicerces do liceu e do teatro e, especialmente, para as obras da barra e do cais da cidade" (Manuel Ferreira Rodrigues, obra citada).
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