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segunda-feira, 8 de julho de 2013

Praça da República

 
 
Extremo norte da antiga Rua do Loureiro (actual Gustavo Ferreira Pinto Basto),
entre o Teatro Aveirense e a Câmara Municipal.
Em frente, a parte demolida da casa de José Estêvão.
(Autor desconhecido. 1905. Colecção Morais Sarmento)


 
Pedestal ainda sem a estátua  de José Estêvão
(Autor desconhecido. Sem data.
A fotografia é, contudo, anterior a 12 de Agosto de 1889,
data da inauguração do monumento. Colecção Morais Sarmento)
 

 
Inauguração do monumento a José Estêvão, em 12 de Agosto de 1889
(Autor desconhecido. Colecção Morais Sarmento)
 

 
Praça do Município cerca de 1910
(Autor desconhecido. Sem data)
 

 
Praça e monumento a José Estêvão
(Autor desconhecido. Sem data.
Anterior, contudo, a 1939, ano em que foi retirado
o gradeamento em volta da estátua. 
Colecção Énio Semedo)
 

 
Monumento de José Estêvão
(Autor desconhecido. Sem data)
 

 
Praça da República, Liceu e monumento a José Estêvão
(Autor desconhecido. Sem data, mas anterior a 1939)
 

 
Paços do Concelho e José Estêvão
(Autor desconhecido. Sem data, mas anterior a 1939)
 

 
Estátua de José Estêvão
(Autor desconhecido. Sem data, mas anterior a 1939)
 

 
Monumento de José Estêvão
(Edição Emílio Biel & Cª, Porto, postal nº 191, série geral. 
Sem data, mas anterior a 1939)
 
 
 
Liceu
(Edição Emílio Biel & Cª, Porto, postal nº 192, série geral. Início do século XX)
 

 
Igreja da Misericórdia
(Autor desconhecido. Sem data.
A grafia "egreja" remete, todavia para antes de 1911)
 

 
Teatro e Liceu
(Autor desconhecido. Sem data.
 

 
Praça da República e monumento a José Estêvão
(Autor desconhecido. Sem data, mas anterior a 1939)
 


Praça da República em 1935

(Colecção Morais Sarmento)
 


 
Monumento a José Estêvão
(Edição Souto Ratola, Aveiro. Sem data, mas anterior a 1939
Colecção Morais Sarmento)
 

 
Praça da República e igreja da Misericórdia
(Autor desconhecido. Sem data)



 
Praça da República
(Autor desconhecido. Sem data, mas posterior a 1939)
 

 
Demolição dos prédios por detrás da estátua de José Estêvão, em 1964
(Colecção Carvalhinho, Américo Carvalho da Silva)
 

 
Demolição dos prédios por detrás da estátua de José Estêvão, em 1964
(Colecção Carvalhinho, Américo Carvalho da Silva)
 

 
Praça da República cerca de 1967, já com o edifício
 projectado pelo arq. Fernando Távora
(Autor desconhecido. Sem data)
 
 
 
Notas à margem

1- A actual Praça da República ocupa aproximadamente o espaço onde se erguia a muito antiga igreja de S. Miguel, que foi, até 1835, ano da sua demolição, o maior e mais importante templo da cidade. Não se sabe ao certo a que século remonta a sua construção, mas já era referida em documentos da época da reconquista cristã.
A decisão de demolir a igreja de S. Miguel foi da responsabilidade do primeiro Governador Civil de Aveiro, José Joaquim Lopes de Lima, nomeado pouco antes para o cargo (25 de Julho de 1835), quando era Ministro do Reino o Duque de Saldanha. Por alvará de 11 de Outubro de 1835, determina que sejam reduzidas a duas as quatro freguesias da cidade: a da Vera Cruz, compreendendo o território desta e o de Nossa Senhora da Apresentação; e a de Nossa Senhora da Glória, compreendendo a área das extintas freguesias de S. Miguel e do Espírito Santo. Pelo mesmo alvará determina ainda que sejam demolidas as igrejas de S. Miguel e do Espírito Santo.
A demolição da igreja de S. Miguel é iniciada quase de imediato, a 19 de Outubro. Segundo Rangel de Quadros, sendo difícil encontrar em Aveiro operários que procedessem à demolição, foram utilizados presos que se encontravam no Forte da Barra.
Curiosamente, a 22 de Dezembro do mesmo ano, Luiz da Silva Mouzinho de Albuquerque, que sucedeu ao Duque de Saldanha no cargo de Ministro do Reino, censurou asperamente, numa portaria, “a obra vandálica da destruição da igreja de S. Miguel” de Aveiro.
Não deixa de ser interessante recordar alguns dos últimos actos religiosos que, em 1835, tiveram lugar nesta antiquíssima igreja:
  • 1 de Março: último casamento, de Domingos Simões Peixinho com Rosa Angélica;
  • 13 de Agosto: último enterramento, que foi o do capitão João Dionísio, da freguesia da Vera Cruz. Recorde-se que, a 12 de Dezembro deste mesmo ano, teve lugar o primeiro (e contestado) enterramento no recém criado cemitério público, o actual Cemitério Central de Aveiro;
  • 26 de Setembro: último baptizado, que foi de Maria do Rosário, filha de António Pereira da Cunha e de D. Emília Rosa Cândida;
  • A 18 de Outubro, dia anterior ao do início da demolição, as principais imagens da igreja de S. Miguel foram conduzidas processionalmente para a vizinha igreja do extinto Convento Dominicano de Nossa Senhora da Misericórdia, sede da nova freguesia de Nossa Senhora da Glória, acabada de criar pelo referido alvará do Governador Civil.
Em Abril de 1840, cerca de cinco anos depois da demolição, a Câmara Municipal, então presidida por Francisco Henriques da Maia, manda proceder ao arranjo do largo fronteiro aos Paços do Concelho, onde haviam sido a igreja e o adro de S. Miguel. A obra, arrematada por Simeão Ribeiro de Paula, de Aveiro, custou 450.000 réis.
Em 1903, dando continuidade ao melhoramento do largo, a Câmara Municipal, então da presidência de Gustavo Ferreira Pinto Basto, manda proceder ao calcetamento da praça.
A 5 de Agosto de 1964, quando era Presidente da Câmara Henrique Álvaro Pires de Mascarenhas, começa a demolição dos prédios que se situavam por detrás da estátua de José Estêvão, para aí se construir um novo edifício municipal, com projecto do arquiteto Fernando Távora, o mesmo que existe ainda hoje.

2- Ao tempo em que foi demolida a igreja de S. Miguel, já existia o actual edifício da Câmara Municipal, construído em fins do séc. XVIII. O facto de se dotar a Câmara com novas e mais dignas instalações prende-se certamente com a elevação de Aveiro a cidade, a 11 de Abril de 1759, graças à “real benignidade” (como se lê no documento régio) do rei D. José. Recorde-se que, na sequência do processo dos Távoras, por alegada tentativa de assassínio do rei, em que também foi indiciado o 8º (e último) Duque de Aveiro, este acabou executado a 13 de Janeiro de 1759, sendo, em consequência, extinto o ducado e confiscados todos os seus bens em favor da coroa. Logo no início do processo, a então vila de Aveiro apressou-se a testemunhar ao rei a sua inteira fidelidade. A “real benignidade” do monarca, ao elevar Aveiro a cidade, foi pois, possivelmente, uma forma de recompensar a sua fidelidade.
O novo edifício da Câmara, cuja construção se prolongou por cerca de três anos, não sofreu grandes alterações ao longo do tempo. No rés do chão, começou por estar instalada a cadeia, que depois foi transferida para outro local.
Refira-se, como simples curiosidade, que, segundo Rangel de Quadros, o chamado “sino da ronda” deixou definitivamente de se tocar na torre dos Paços do Concelho a 1 de Outubro de 1892. O toque do sino da ronda era um costume que vinha de séculos passados e destinava-se a chamar os noctívagos a casa.

3- “Embora não esteja documentada a data exacta da fundação da irmandade da Misericórdia de Aveiro, esta é atribuída por tradição ao ano de 1498, logo após a fundação da Misericórdia de Lisboa. Sabe-se que em 1502 a irmandade funcionava em pleno, uma vez que na época foram feitas doações à mesma, para além de os irmãos terem recebido uma carta de privilégios dada por D. Manuel nesse ano.
A primitiva sede da irmandade funcionava na Capela de Santo Ildefonso, junto à igreja paroquial de S. Miguel, tornando-se no entanto evidente a reduzida funcionalidade da mesma para servir as obras de assistência da Misericórdia numa vila com uma intensa vida comercial e marítima, ligada ao Atlântico e às colónias ultramarinas.
Ao longo do século XVI a irmandade intentou esforços para patrocinar a construção de uma igreja própria, bem como de um hospital, e em 1585 D. Filipe I concedeu à irmandade aveirense os mesmos privilégios de que usufruia a Miseriória de Coimbra.
A obra de edificação do templo iniciou-se em 1600, sendo contratado para a execução da traça o mestre Gregório Lourenço. A primeira pedra da igreja era lançada ainda nesse ano. (…) No ano de 1608 a Casa do Despacho estava já concluída e o corpo do templo encontrava-se edificado, faltando executar o pórtico principal e o espaço da capela-mor. Em 1615 o hospital ficava concluído. No entanto, a fábrica de obras foi sendo interrompida por falta de apoios financeiros, e a capela-mor só viria a ser concluída entre 1650 e 1655, durante a provedoria de D. Raimundo de Lencastre, Duque de Aveiro. (…) Somente em 1669 a Capela de Santo Ildefonso deixou de ser utilizada pela irmandade, pelo que se depreende que nesta data a estrutura do templo da Misericórdia estava concluída. (…) A fachada foi “revestida por azulejos em 1876”.

IGESPAR, “Igreja da Misericórdia de Aveiro, incluindo as salas de despacho e anexos”
 
4- Do lado poente da Praça da República fica o edifício do primeiro liceu de Aveiro, por cuja criação se bateu insistentemente José Estêvão. A sua construção foi iniciada em 1855, quando o Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, criado três anos antes, era ocupado, desde a sua criação, por Fontes Pereira de Melo, que deu um incremento notável às obras públicas em Portugal, ao ponto de esses anos em que ocupou o ministério passar a ser designado como “fontismo”. As obras do Liceu prolongaram-se até 1860, tendo a inauguração acontecido a 15 de Fevereiro.
O Liceu, cujo projecto é de um mestre de obras aveirense, Ricardo da Maia Romão, ocupa o lugar onde antes existia a albergaria de S. Brás, tendo, aliás, a pedra deste edifício sido utilizada na nova construção, além de pedra das muralhas de Aveiro, mandadas demolir pelo príncipe regente D. João, futuro D. João VI.
 
5- Apenas dois anos após o início das obras do Liceu, portanto em 1857, teve início a construção do Teatro Aveirense, para o que a Câmara Municipal adquirira pouco tempo antes o terreno necessário. Todavia, por falta de verba, as obras foram interrompidas logo em 1858, até que, no final da década de setenta, se conseguiu formar um grupo responsável pela conclusão das obras e futura gestão do espaço, a Sociedade Construtora e Administrativa do Teatro Aveirense. As obras só ficaram concluídas no início da década de oitenta, quando era presidente da Câmara Sebastião de Magalhães Lima. A inauguração do Teatro ocorreu em fins de 1881, tendo a peça de estreia sido encenada pela Companhia do Teatro Nacional de D. Maria II em Março do ano seguinte.
Com o fim do regime monárquico, o Teatro encerrou para obras de adaptação a novas funcionalidades, como o cinematógrafo, reabrindo em 1912.
Mais tarde, entre 1947 e 1949, procedeu-se a nova remodelação, quer do interior, quer da fachada voltada para os Paços do Concelho.
Por fim, em 1998, e tendo em vista a preservação do imóvel, a autarquia adquiriu o edifício do Teatro e procedeu a uma série de intervenções visando o ajustamento do espaço às novas exigências, tanto no que se refere à comodidade como às próprias necessidades dos espectáculos.

6- O centro da praça é ocupado pela estátua de José Estêvão, aveirense ilustre a quem a cidade ficou a dever relevantes serviços. A ele se devem, a título de exemplo, o novo liceu de Aveiro, assim como o facto de a ligação ferroviária entre Lisboa e Porto passar por Aveiro, o que não estava previsto no plano inicial. Curiosamente, José Estêvão, falecido a 4 de Novembro de 1862, não pôde assistir à chegada do comboio à sua cidade, que só aconteceu em Abril de 1864.
Dezoito anos após a sua morte, em 1882, um grupo de aveirenses tomou a iniciativa de erigir um monumento em sua memória, lançando para isso a primeira pedra a 8 de Maio desse ano, prosseguindo depois as obras do pedestal sob a direcção de Manuel Homem de Carvalho Cristo. A 3 de Junho, o Governo concede, por lei, o bronze necessário para fundir a estátua. Mas só em 1886 a comissão responsável pelo monumento celebra com o escultor lisboeta José Simões de Almeida Júnior o contrato para a execução, por 1.100$000, do modelo em gesso da estátua. E só a 28 de Abril de 1888 é concluída a fundição da estátua, em bronze, no Arsenal do Exército, em Lisboa. A 21 de Abril de 1889, a estátua, transportada de comboio, é desembarcada, não na estação de Aveiro mas na passagem de nível de S. Bernardo, por especial concessão da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, e depois transportada para o largo do município. Recorde-se que, na altura, a estação só tinha ligação ao centro da cidade através da Rua Cândido dos Reis.
Por fim, a 12 de Agosto de 1889, o monumento foi inaugurado, na presença da viúva, D. Rita Moura Miranda Magalhães.
 
Bibliografia breve

- Rangel de Quadros, "Aveiro, Apontamentos Históricos"
- Amaro Neves, "Aveiro, História e Arte"
- IGESPAR, "Teatro Aveirense"
- IGESPAR, "Igreja da Misericórdia de Aveiro"
- Aveiro e Cultura, "Calendário Histórico de Aveiro"
- Aveiro e Cultura, "Arquivo Digital"

















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